terça-feira, agosto 25, 2009

Falta...

"(...) Abalou-a um pensamento vago: 'As pessoas que a gente ama deviam morrer com todas as suas coisas.' Não quis ajuda de ninguém para se deitar, não quis comer nada antes de dormir. Na angústia de sua desolação, rogou a Deus que lhe mandasse a morte esta noite durante o sono, e com essa ilusão se deitou, descalça mas vestida, e dormiu no mesmo instante. Dormiu sem saber, mas sabendo que continuava viva no sono, que sobrava metade da cama, que jazia de costas na margem esquerda, como sempre, mas que lhe fazia falta o contrapeso do outro corpo na outra margem. Pensando adormecida pensou que nunca mais poderia dormir assim, e começou a soluçar adormecida, e dormiu soluçando sem mudar de posição na sua margem, até muito depois de acabarem de cantar os galos, e a despertou o sol indesejável da manhã sem ele."

O amor nos tempos do cólera - Gabriel Garcia Márquez

8 comentários:

Tânia disse...

Que triste.
Mas não entendi a parte que diz :"'As pessoas que a gente ama deviam morrer com todas as suas coisas."

Bill Falcão disse...

Trecho muitíssimo bem escolhido de um grande gênio!
Bjooooooooo!!!!!!!

Anônimo disse...

Muito bonito, a relaçÃo de querem morrer já que a razão do seu viver morreu.

Lu Santana disse...

eu entendi..è igual namoro.
qdo a gente termina e tem vontade de entregar tudo pra pessoa, por raiva, ou por doer aquelas coisas ao olhar..
morrer seria igual..
ficaria a saudade nas coisas da pessoa e uma raiva pq ela foi embora.

Jaya Magalhães disse...

Deveriam. Mas o pior, é que coisas são coisas, e ainda que morra, dentro da gente... dentro da gente vai continuar sendo. E é pra sempre.

Esse livro é dos meus melhores. E Garcia Márquez, é o predileto.

Beijo, Manda.

Carlos Howes disse...

Grande trecho de um grande escritor. E para quem sente a dor, não há momento de maior pesar do que o noturno...


Bjo.

fee disse...

Ah, Amanda... para!!
A falta faz uma buraqueira terrível no coração da gente.

Cadinho RoCo disse...

Em cada manhã uma nova revelação.
Cadinho RoCo