sábado, agosto 22, 2009

Vivendo de passado

Ele queria mergulhar o mais fundo que conseguisse. Sentir a dor e o prazer disso.
Se esquecer de qualquer coisa comum, normal, ordinária.
Queria esquecer o que já tinha vivido de ruim, fechar as feridas que ainda doiam no peito, fingir que tinha acontecido com um conhecido e não com ele.
Mas não era tão fácil quanto desejava. Sentia que não tinha o controle de tudo e que por mais que tentasse, ia ser sempre assim.
Parecia que o grande amor de sua vida já tinha passado, logo com ele que era tão jovem e tinha tanto ainda que ver.
Tantos caminhos a percorrer, tantas mulheres para conhecer, tantas histórias para viver... Por que essa sensação de que a história principal já tinha acontecido? Por que era tão difícil não olhar para trás? O futuro estava a frente, não estava? Não tinha porquê ficar vivendo de lembranças, ficar se magoando dia após dia, e magoando quem quer que estivesse ao seu lado.
Por que era tão fácil enxergar isso e tão difícil agir da forma certa? Por que não deixar o passado onde tinha que ficar, morto e enterrado e seguir experimentando tudo o que poderia?
Queria entender. Queria resolver tudo isso, acabar com esse tormento, escutar qualquer música que fosse sem associá-la à ninguém, assistir filmes sem ver em cada cena algo que já tinha acontecido há tanto tempo atrás.
Queria e decidiu que era aquilo que faria. Por mais que ainda doesse, por mais difícil que fosse tentar fechar as feridas e deixá-las cicatrizar, por mais impossível que parecesse confiar total e completamente em alguém de novo, estava disposto a tentar, nem que morresse tentando.
Afinal, aquilo não poderia continuar assim, poderia? Ele tinha o direito de ser feliz tanto quanto qualquer outro.
E seria. Um dia, sem que ele percebesse, ele se veria feliz e completo de novo.

6 comentários:

Janaína S. disse...

'Por que essa sensação de que a história principal já tinha acontecido?'

O texto inteiro é lindissimo.
Mas esse trecho é muito comum a mim.
Tantas vzes já tive essa sensação.

adorei seu blog.
Beeeijo.

Tânia Carlos disse...

Que foda, Amanda. Eu meio que escrevi sobre isso no meu último post.
Construí um barraco achando que estava construindo um arranha-céu. Quando ele foi demolido, machucou tanto, que demorou pra eu perceber que era um barraco. Que foi forte, mas que não foi a minha história principal, porque ela ainda há de ser construída.

Não sei se você se inspirou em alguém pra escrever isso, só sei que achei bonito e me identifiquei.
Eu também estou disposta a tentar, um dia. ;)

Jaya Magalhães disse...

Eu sempre tenho medo de viver assim, Manda. Teu texto é tão impregnado de uma dor real, que eu acabo sentindo o que você expôs, sem nem estar vivendo.

Sabe? Eu quero que minha história principal aconteça por todos os dias de minha vida.

Um beijo.

Hugo de Oliveira disse...

Gostei muito do seu blog...já sou um seguidor , pois quero voltar outras vezes.


abraços


Hugo

Xavier disse...

A "disposição em tentar" é o suficiente para tudo.

Bjos e td de bom

l u a * disse...

eu devo ter faltado numa aula, só pode.
(que eu acho que amor é de multiplicar, quando divide, e dá-lhe viver. que o grande amor da vida é sempre o próximo, o atual, o último e o penúltimo, que as vidas são tantas! e no fim, é melhor só fluir, mesmo, tantos amores quanto puder.)

será que tem DP?